Lula sempre soube da espionagem na Abin e até premiou um dos envolvidos

O histórico nó entre os presidentes da República e o comando da PF | VEJA

Lula “puniu” Lacerda com uma bela transferência para Lisboa

José Casado
Veja

Lula desprezou avisos e, agora, corre para tentar conter os danos na crise da Agência Brasileira de Inteligência. Ela foi deflagrada pelas investigações da Polícia Federal sobre o uso da agência em espionagem política — ilegal e com beneficiários privados — durante o governo de Jair Bolsonaro, seu adversário predileto.

A Abin é órgão da administração direta integrante da Presidência da República. Espionagem ilegal nessa agência é curto-circuito político direto no gabinete presidencial. Os riscos de danos ao governo se multiplicam em pleno confronto com a Polícia Federal.

CRISE SEMELHANTE – Lula sabe, porque já enfrentou uma crise semelhante no segundo governo. Alguns dos principais agentes que protagonizaram o escândalo de espionagem de década e meia atrás são os mesmo que atualmente estão sob investigação.

Bolsonaro e filhos parlamentares estão no alvo do processo judicial, mas os efeitos colaterais são os de uma crise latente no governo, visível no confronto entre a Abin e a Polícia Federal.

Sob Lula, a cúpula da agência está sendo acusada de obstrução de justiça. Teriam interferido nas investigações policiais, supervisionadas pela Procuradoria-Geral da República e determinadas pelo Supremo Tribunal Federal.

Lula entregou a Abin ao delegado federal aposentado Luiz Fernando Corrêa, a quem é grato pelo interesse demonstrado na proteção de seus familiares em momentos críticos no segundo governo.

Corrêa ganhou fama na PF como líder da equipe responsável pela adaptação do sistema de espionagem conhecido como Guardião, muito difundido nos órgãos de segurança federais e estaduais.

LIMPANDO A ÁREA – Lula diz ter “muita confiança” nele, mas nos últimos quatro meses mandou Corrêa demitir vários auxiliares. Nesta terça-feira (30/1) eliminou, entre outros, o delegado federal Alessandro Moretti, diretor-adjunto de Corrêa na agência.

A crise entre Abin e Polícia Federal avança no ritmo das investigações sobre a extensão da espionagem ilegal e os beneficiários no governo Bolsonaro. As sequelas dessa disputa no governo Lula começaram a ficar expostas.

Não foi por falta de aviso. Um deles foi dado no Senado, numa quinta-feira, 4 de maio do ano passado, quando a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional estava reunida para aprovar a indicação do novo diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência.

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Renan deixou bem clara a  situação da Abib 

RENAN AVISOU – O delegado aposentado da Polícia Federal Luiz Fernando Corrêa já dirigia a Abin há mais de dois meses, mas senadores relutavam em aprová-lo. Lula insistiu. Numa viagem a Lisboa encontrou o presidente da comissão, senador Renan Calheiros (AL-MDB), e apelou pela homologação. Calheiros convocou a reunião com Corrêa. Sessão aberta, foi direto:

— O senhor está ciente de que o diretor-adjunto da Abin, Alessandro Moretti, era diretor da Inteligência da Polícia Federal até janeiro deste ano, mês dos ataques terroristas?

O delegado manteve-se impassível.

— O senhor acha que esse servidor está qualificado para exercer o cargo para o qual foi nomeado e já exerce? — prosseguiu o senador. — Há alguma apuração, no âmbito da Abin com relação a ele, em função desses fatos? O senhor está ciente de que o servidor foi secretário-executivo do senhor Anderson Torres, preso por envolvimento na conspiração do dia 8? O senhor acha que o servidor é o mais adequado para exercer esse cargo?

MAIS AINDA… – Calheiros não se importou com a agitação na plateia. Acrescentou, incisivo: — O senhor está ciente de que o senhor Paulo Maurício Fortunato, nomeado para a Secretaria de Planejamento e Gestão da Abin, é suspeito de tramas para grampear ilegalmente o ministro Gilmar Mendes, então presidente do Supremo Tribunal Federal?

Gilmar Mendes havia presidido o STF entre abril de 2008 e março de 2010. Nesse ocaso do segundo governo Lula, foi alvo de espionagem ilegal da Abin em parceria com a Polícia Federal, porque libertara da prisão o banqueiro Daniel Dantas, dando-lhe permissão de acesso aos processos em que figurava como acusado.

Evidências dessa ação clandestina contra Mendes foram expostas na época pelos repórteres Policarpo Junior e Expedito Filho, de Veja.

NADA SABER? O delegado federal Paulo Lacerda dirigia a Abin, e a PF estava sob comando de Luiz Fernando Corrêa, que alegou nada saber. Lula demitiu Lacerda da agência e, em seguida, mandou-o para Lisboa como adido policial.

Na comissão do Senado, em maio passado, Corrêa fez uma enfática defesa dos seus subordinados Alexandre Moretti e Paulo Maurício Fortunato Pinto:

— Em relação a qualquer um dos dois, eu não tenho, e falo isso com toda a certeza porque, gozando da confiança do presidente, eu jamais correria um risco de expor qualquer governo a uma situação no mínimo constrangedora. E completou: — Eu expliquei ao presidente… E há um princípio de transferência de confiança. Aqui eu quero me comprometer, também, com o Parlamento!

REPLAY DA CRISE – Assim, dezesseis semanas depois da sessão no Senado, Lula e Corrêa começaram a assistir ao replay de uma situação que haviam compartilhado década e meia atrás.

Em outubro, viram-se na obrigação de demitir Paulo Maurício Fortunato Pinto, antigo oficial de Inteligência, escolhido por Corrêa para o terceiro posto na hierarquia da Abin.

Ele se tornou suspeito de atuar em ações de espionagem ilegal contra parlamentares e juízes do STF que o governo Jair Bolsonaro listava como inimigos políticos. Foram ao menos 36 meses de “ações clandestinas”, segundo despacho do juiz Alexandre de Moraes, do STF.

ESTRUTURA PARALELA -O Supremo, a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal deixam claro em documentos que havia uma “estrutura paralela instalada na Abin” para execução de “tarefas clandestinas”. A agência, porém, não era a única envolvida com operações ilícitas de espionagem política no governo Bolsonaro.

A polícia antecipou ao juiz Alexandre de Moraes, do STF, perspectivas de identificação “de ainda mais núcleos de atuação”, com participação de “outros agentes ainda não identificados”, nas “ramificações ainda não totalmente identificadas” em órgãos governamentais.

Lula sabia do caso da espionagem em 2008 e soube do atual, o da ‘Abin paralela’. Sobraram avisos sobre o potencial de confusão política, como o do senador Renan Calheiros. Agora, resta-lhe correr para tentar conter os danos ao próprio governo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Importantíssima matéria do José Casado. Comprova que recordar é viver. A informação mais curiosa e reveladora é de que Lula, após demitir o delegado Paulo Lacerda, deu um prêmio a ele, que foi curtir uma função confortável de adido policial em Lisboa, recebendo em dólares. Por fim, a pergunta que fica: Quem pode levar a sério um país onde os agentes de espionagem atuam como se estivessem num roteiro de “Os Trapalhões”? (C.N.)

3 thoughts on “Lula sempre soube da espionagem na Abin e até premiou um dos envolvidos

  1. De “trapalhada” em “trapalhada”, as verdades vão aparecendo.
    Relutar tanto para demitir o cidadão deve ser para manter o “arquivo” em silêncio.

  2. O FURACÃO ABIN- CAVALO DE TRÓIA NO GOVERNO

    Ontem, 31/01,assisti a entrevista do Márcio Cepik, o novo número dois da ABIN, para o Studio I, pilotado por Andreia Sadi. O novo número dois é um homem qualificado. Presidia a Escola de Inteligência da ABIN. Em alguns momentos da entrevista, o nomeado se sentiu incomodado com as perguntas de Sadi e Guedes, os mais incisivos e diretos.
    Lula demitiu o delegado Alexandro Moretti, o antigo dois, que trabalhou para Bolsonaro, como número dois do golpista e também delegado, Anderson Torres, ministro da Justiça de Bolsonaro.
    É inconcebível, o governo deixar na ABIN, um cavalo de Tróia, uma tropa do inimigo, dentro da Agência de Informações. É muita incompetência do PT. Continuam dando tiro no pé e demonstram não terem aprendido quase nada com os erros, que a Direita usa e abusa nas redes sociais.
    De nada adiantou, os alertas do senador Renan Calheiros. Lula trouxe uma crise do governo anterior para dentro do Planalto.

    VALDEMAR MENTIU O TEMPO TODO

    Logo depois, Andreia Sadi, a âncora do Studio I, entrevistou o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto. Muita emoção e furo da jornalista, num único dia.
    Bem, Valdemar, apelidado de lindão em Mogi das Cruzes- SP, abusou das mentiras.
    Confrontado sobre o apoio de Bolsonaro, a reeleição de Ricardo Nunes, atual prefeito de São Paulo, disse que o ex presidente vai entrar de cabeça, porque o objetivo é impedir a vitória de Boulos do PSOL. Continuando, Valdemar disse, que se Boulos ganhar vai incendiar o Brasil.
    Sadi: mas ele será prefeito de São Paulo? Resposta: …mas é a maior capital do Brasil. Olhe só, o que somente três deputados do PSOL, tumultuam a Câmara dos Deputados, não concordam com nada, fazem um barulho danado, esses comunistas. Temos que impedir, a vitória deles.
    Waldo Cruz, perguntou sobre a candidata do PSB, Tábata Amaral. Valdemar pulou nas tamancas e agressivo, disse que ela é despreparada e que nunca administrou nada, não conhece a máquina administrativa e seria um desastre para São Paulo. Andreia Sadi ficou brava e disse que Tabata é uma das melhores deputadas da Câmara e arrematou : o que você diz, sobre Bolsonaro, que ficou 30 anos como vereador e depois deputado federal e que se tornou presidente. Ai, Valdemar não balançou a peruca. Disse, que no governo federal, o presidente tem muitos assessores.
    Guedes perguntou, se então, Valdemar vai retirar a candidatura de Alexandre Ramagem, a prefeito do Rio, porque ele está no seu primeiro mandato de deputado federal. Disse ele: Mas, ele foi Diretor da ABIN. Nenhuma resposta de Valdemar se sustenta. Tudo mentira deslavada.
    Para piorar, disse que Bolsonaro é o líder de maior carisma do mundo, porque aonde ele vai, uma multidão o espera para tocar nele, os aeroportos ficam lotados, até no Nordeste, citando o Ceará.

    Demonstrou uma falta de conhecimento, ao afirmar que a ABIN faz investigação. A Agência de Informação, uma cópia do SNI, não participa de inquérito nem investiga pessoas, atributo constitucional da Polícia Federal. O objetivo da ABIN é a produção de Relatórios de Inteligência para avaliação do presidente e ministros, na tomada de decisões estratégicas.

    Valdemar não confia em Bolsonaro, mas não rompe, porque precisa dos votos do Bolsonarismo, para engordar os fundos partidários para a sigla que preside, o PL.
    Dois caciques, não cabem na mesma tribo, uma hora o rompimento acontece. Valdemar jamais romperá, enquanto Bolsonaro favorecer o seu Poder. É mais fácil, o ex-presidente sair para criar o seu próprio Partido Político. O que já tentou sem sucesso.
    O amanhã, ninguém sabe o que virá.

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