Uma sátira de Sérgio Ricardo à ditadura de 64, que está valendo até hoje 

Pinturas de Sérgio Ricardo

Sérgio Ricardo, um artista multimídia

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cineasta, artista plástico, instrumentista, cantor e compositor paulista João Lutfi (1932-2020), que adotou o pseudônimo de Sérgio Ricardo, na letra de “Semente” faz uma sátira à ditadura militar vigente no Brasil de 1964 a 1985. A música está no LP Sérgio Ricardo, gravado, em 1973, pela Continental.

SEMENTE
Sérgio Ricardo

Cada verso é um semente
No deserto do meu peito
E onde rompe a grama verde
Vou deitando o desalento

No largo de alguma boca
No rasgo de algum sorriso
No gesto de algum lampejo
Na rima de um improviso
Nas curvas de uma morena
Na reta do meu desejo
Na relação entre corpos
Na paz do último beijo

Cada verso é uma semente
No deserto do meu peito
E onde o verde não verdeja
Não deito o meu desalento

Na rasgo dos grandes feitos
No largo de um só caminho
No brilho dos castiçais
No canto do passarinho
No garfo do deus-diabo
Na faca dos divididos
Na taça dos taciturnos
No prato dos oprimidos

Cada verso é uma semente
No deserto do meu peito
Mas se do ventre do verde
Não verdece algum rebento

No rasgo do meu poema
No largo de imagens mortas
Num gesto claro de outono
Na rima de folhas soltas
Na curva de novos versos
Na reta da revivência
Na relação dos desertos
Eu cravo a minha insistência

Hoje o verso é uma semente
Do meu peito num deserto
Verde que te quiero verde
Mas não há verde por perto

2 thoughts on “Uma sátira de Sérgio Ricardo à ditadura de 64, que está valendo até hoje 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *