Ignorante em economia, Lula deixou que o Brasil criasse o “capitalismo sem risco”

Entenda por que os bilionários capitalistas financiam o surgimento da nova esquerda - Flávio Chaves

Charge do Allan Sieber (Arquivo Google)

Carlos Newton

Em meio à polêmica sobre o velho teto de gastos, hoje chamado de arcabouço fiscal, com o presidente Lula da Silva tentando descumprir a lei que ele próprio enviou ao Congresso e depois sancionou, fica evidente a necessidade de discutir a base de tudo isso, que está no sistema econômico nacional, no aumento da dívida pública e nos extorsivos lucros dos bancos.

Sabemos que esse assunto é tabu na imprensa e somente é abordado em dois espaços na internet – no site da Auditoria Cidadã e aqui no blog da Tribuna da Internet.

LUCRO DOS BANCOS – É uma rotina cansativa acompanhar o lucro dos grandes bancos brasileiros, que não têm comparação no resto do mundo, mas ninguém parece desconfiar de nada. Agora mesmo, a imprensa está exaltando o lucro do Itaú no terceiro trimestre deste ano.

O lucro líquido contábil do Itaú nos nove meses de 2023 atingiu a marca de R$ 24,19 bilhões, estabelecendo um novo recorde histórico em valores nominais para um banco de capital aberto, com alta de 11,9% ante mesmo período do ano passado.

Daqui a pouco sai o resultado do Bradesco, que não vai querer ficar por baixo. Esses resultados repetitivos deveriam causar espanto e discussões, mas já estão anexados à paisagem. Não há maiores comentários, é o novo normal.

CAPITALISMO SEM RISCO – Ninguém comenta, embora seja inacreditável, que os bancos brasileiros se tornaram imunes a crises. Jamais se vê um resultado no vermelho ou ameaça de falência, como ocorre nos demais países, a exemplo do norte-americano Lehman Brothers em 2008.

Aqui no Brasil, do lado debaixo do Equador, a lucratividade está sempre garantida. O fato concreto é que, 250 anos após as teorias do portentoso Adam Smith, os governantes brasileiros inventaram o capitalismo sem risco no sistema bancário. E isso não causa surpresa, ninguém discute, todos aceitam, porque a imprensa amestrada bate palmas e esconde o produto do roubo, digamos assim, das operações compromissadas

OPERAÇÕES COMPROMISSADAS – Não é invenção brasileira. As operações compromissadas entre os bancos e o Tesouro Nacional existem em outros países. Na matriz USA estão legalizadas essas operações, mas raramente são usadas. A filial Brazil só inovou ao tornar permanente uma situação eventual – as operações compromissadas foram incorporadas ao dia-a-dia financeiro.

Funciona como o velho overnight. A cada dia, os bancos depositam no BC o dinheiro dos clientes que ficou de bobeira nas contas e o governo paga uma remuneração, sem risco. Que maravilha viver, diria Vinicius de Moraes.

Diante das críticas ocasionais à operações compromissadas, feitas pela Auditoria Cidadã e pela Tribuna da Internet, a filial Brazil criou uma variação – os depósitos voluntários, que os bancos podem fazer no mesmo esquema diarista, mas com outra denominação.

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P.S. –
Além disso, é claro, existe a dívida pública, em sua maior parte lastreada na Taxa Selic, com os maiores juros reais do mundo. Sempre que o governo gasta mais do que arrecada e não faz superávit primário, tem de buscar dinheiro junto aos bancos, fazendo a festa dos rentistas do capitalismo sem rico. Lula se justifica, dizendo que vai apenas pegar o dinheiro onde está e levar para onde deveria estar. Bem, se tudo fosse simples assim, nem precisaríamos de governantes.

P.S. 2 – Na verdade, seria importantíssimo que os governantes entendessem de economia. Mas todos eles agem como serviçais dos bancos. E por isso la nave va, cada vez mais fellinianamente. (C.N.)

16 thoughts on “Ignorante em economia, Lula deixou que o Brasil criasse o “capitalismo sem risco”

  1. Ignorante em economia, Lula deixou que o Brasil criasse o “capitalismo sem risco”

    Sr. Newton

    Quem deve estar comemorando e tomando um Balantine’s é a Quadrilha do Luladrão,

    Odebrejo, OAS, Camargo Correa, Friboi…..

    Nada de risco…..

    Mas aqui torcendo para essas empresas bandidas e seus Empresários bandidos virarem pó, e as cinzas jogadas no Esgotão Coveiro entre as Marginais….

    Grande Abraço….

  2. O BC, usa as operações compromissadas para o controle da inflação, juntamente com a Selic.

    Isso é exagerado e dá lucro excessivo aos bancos (Selic elevada)? Essa ferramenta usada pelo BC poderia ser revista? O governo pode intervir?

    Há um estudo do IFI sobre as operações compromissadas e como elas são utilizadas como ferramenta de controle pelo BC.

    https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/533520/Estudo_OpCompromissadas.pdf?sequence=1&isAllowed=y

    • Przado Vidal,

      As operações compromissadas são tão onerosas que desde 2008 passaram a ser consideradas parte da dívida pública. Em tradução simultânea é um overnight (juros diário) exclusivo para os bancos, criado pelo primeiro governo do PT.

      Achei positivo que você, embora admirador de Lula, não tenha tentado defender essa excrescência jurídica, que o estudo do Senado também não defende, apenas cita as “justificativas” oficiais do Banco Central. Quando eu e você concordamos, a Pátria pode ser salva.

      Abs.

      CN

      • Prezado CN,

        o BC ficou encarregado de tentar manter as metas de inflação, coisa estabelecida em 1999 (governo FHC). E uma das ferramentas implementadas para atingir tais metas, foram as operações compromissadas.

        Uma das principais políticas monetárias do BC é o controle da liquidez na economia e uma das ferramentas muito relevantes utilizadas para tal, são as chamadas operações compromissadas (incrementou bastante seu uso quando o ingresso de divisas internacionais, no período de 2006 a 2012 cresceram muito rapidamente). .

        Claro que o sistema financeiro lucra com o uso da mesma, mas qual seria uma alternativa duradoura e viável para diminuir esse montante? Parece que os criticados depósitos voluntários podem ser uma ferramenta melhor. Ou diminuir o crédito no mercado.

        Enfim, há controvérsias no uso da ferramenta pelo BC para controlar a liquidez na economia..

        Abraço e, sim, independentemente do governante, penso no que seja melhor para o país (maioria do povo).

  3. Tipo casamenteiras “Operações compromissadas”, gerarão tentações, adultérios e finalmente divórcios e brigas pelo minguado espólio!

  4. Para acabar com tal estado de coisas é que o Javier Milei quer mudar as coisas, e não é com a dolarização, é acabando com este “capitalismo sem risco”. Lá como cá os bancos viraram um fim em si mesmos, preferem emprestar para o Estado do que para o povo. E as grandes empresas também abominam a ideia de livre mercado, porque privatizar e não abrir o mercado é ficar no mesmo, veja-se o exemplo recente do acontecido em São Paulo, uma empresa particular deixando os seus clientes sem luz. Privatização para ficar como está então deixa como está.

  5. A preocupação nesse momento, mais importante inclusive que deficit fiscal, é crescimento da economia via investimentos públicos e programas sociais, recuperando dessa forma a arrecadação que foi destruída ao longo dos últimos governos neoliberais.

  6. Excelente texto.
    Banqueiros são os principais representantes do mercado financeiro, defendido pela mídia e a direta, não produzem nada, vivem da usura e seus lucros não são investidos para melhorar a economia do país, diferentemente de uma empresa nacional que seu lucro é investido no país ajudando a alavancar a economia.
    Darcy Ribeiro costuma dizer,, “banqueiro é ladrão”

    Nenhum presidente que queira desenvolver o país gosta de submeter o desenvolvimento a um teto de gasto limitado, mas se vê obrigado caso contrário o congresso não aprova o arcabouço fiscal.

    Com a taxa SELIC alta é a festa dos banqueiros e o governo se vê obrigado a tira tirar mais dinheiro do Orçamento apenas para rolar a dívida pública.
    Economista, geralmente não tem visão política, se limitam à números de receita e despesa, se limitam a combater a inflação com o velho chavão: “temos que inibir o consumo”
    Num país ou numa empresa, sabe-se que se não investir em crescimento a empresa ou o país não cresce, fica travado e não sai do lugar.

    Para um país vale mais a experiência política que a cartilha dos economistas que só entende de números.
    Getúlio, Juscelino, Brizola, Miguel Arraes entre outros não eram economistas.
    Qual economista que não defende o mercado financeiro e joga sempre a conta a pagar nas costas do povo?
    Economista é um contador de luxo mais sofisticado em defesa do status quo.

  7. Não interessa a “quem manda de fato” que o país tenha alguém na presidência que entenda de economia; daí que os atropelos se sucedem, mas quem ganhe muito, muito mesmo… COMO SEMPRE! Não tem ideologia que dê jeito mesmo…

  8. Em 2022 os juros pagos por conta das operações compromissadas foi de 133 bilhões. Em 2016, ocorreu o maior valor pago em juros: 201 bi.

    “9.1.5. a taxa paga nas operações corresponde à taxa Selic efetiva que, atualmente, situa-se 10 pontos-base abaixo da Selic meta, definida pelo Banco Central de acordo com a decisão adotada pelo Comitê de Política Monetária – Copom, situação que ocorre quando o banco atua na ponta tomadora de recursos, enxugando o excesso de liquidez do sistema;

    9.1.6. a utilização das operações compromissadas, para fins de política monetária, busca a estabilidade de preços e manutenção das reservas internacionais, por meio da convergência da taxa Selic efetiva para a taxa Selic meta, conforme definição do Copom, além do intuito de evitar a volatilidade dessa taxa de juros;”

    https://pesquisa.apps.tcu.gov.br/documento/acordao-completo/TC%2520016.028%252F2020-1/%2520/DTRELEVANCIA%2520desc%252C%2520NUMACORDAOINT%2520desc/0/%2520

  9. E o larápio quer saber de Economia ? Ele quer o dele e voltar a “cometer” obras através do Plano de Aceleração da Corrupção – PAC. Só que agora terá que repartir com mais que uma dúzia de elementos. Estes aqui da TI – apesar de não receberem coisa alguma – ficarão felizes de saber que o Brasil voltou ao que era.

  10. Tive um colega de aula que concordava com tudo o que o professor opinava e ficava furioso quando outros colegas questionavam tal professor.

    Naquele tempo, era comum os alunos colocarem alcunhas nos colegas. Assim, o aluno que concordava em tudo que o professor dizia, foi apelidado de concordino (chamávamos assim aqueles que não tinham opinião própria e se baseavam nas opiniões de outros) viciado, mas como ele era brabo, abreviamos para CV.

    Aí ele quis saber o que significativa CV (naquele tempo nem existia o Comando Vermelho), então, como estava combinado entre nós, dissemos que significava cabra valente. Ele nunca ficou sabendo a verdade.

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